tag:blogger.com,1999:blog-21599817282801725152024-03-19T02:21:01.622-07:00Bem-vindo à AméricaUm relato surpreendente sobre a vida de um imigrante brasileiro em Nova YorkMichel Arbachehttp://www.blogger.com/profile/09391669747283456067noreply@blogger.comBlogger5125tag:blogger.com,1999:blog-2159981728280172515.post-37726449590322533242009-06-02T19:13:00.000-07:002009-06-17T15:08:06.811-07:00Apresentação<div style="text-align: justify;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpXp8ai8v1ifSABimV940KY0jsTS3bSIptqMFFTRWiN_Ce3P2q8P-yoQZ8O57tcsbXX9ip6ndZ1HjkW25DL5pCmCyyMxqO0C0CPYDpoBjw9NpJZ7BoxO799oZ7iRaPTITct-bIE6Es4jh5/s1600-h/capa.jpg"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer; width: 230px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpXp8ai8v1ifSABimV940KY0jsTS3bSIptqMFFTRWiN_Ce3P2q8P-yoQZ8O57tcsbXX9ip6ndZ1HjkW25DL5pCmCyyMxqO0C0CPYDpoBjw9NpJZ7BoxO799oZ7iRaPTITct-bIE6Es4jh5/s320/capa.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5322507097621429714" border="0" /></a>A vida de um brasileiro em Nova York na visão de quem teve o táxi como primeira profissão na cidade que, na época, era considerada uma das mais violentas do mundo.<br /><br />Nos posts abaixo, você terá mais alguns detalhes deste romance - parceria entre a Nanquin Editorial e a Funalfa Edições.<br /><br />Para ir ler o release direto no site da editora, clique <a href="http://www.nankin.com.br/imprensa/Releases/Release-bem-vindo-a-america.htm">AQUI</a>.<br /><br /></div>Michel Arbachehttp://www.blogger.com/profile/09391669747283456067noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2159981728280172515.post-72830352898713631172009-06-02T17:57:00.000-07:002009-06-04T17:21:04.975-07:00Ficha técnica<span style=";font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;font-size:85%;" >ISBN 978-85-7751-038-2</span><br />Páginas: 272<br />Formato 14x21<br /><span style=";font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;font-size:85%;" ></span>Editoras: Nankin Editorial - Funalfa Edições<br />Preço: R$ 30,00<br /><span style=";font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;font-size:85%;" ><br /></span>Vendas:<br /><b><span style=";font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;font-size:85%;" >Atendimento</span></b><span style=";font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;font-size:85%;" >:<br />NANKIN EDITORIAL – Rua Tabatingüera, 140, 8o andar, cj. 803 – Centro – São Paulo<br />CEP 01020-000<br />Tel. (0**11) 3106-7567, 3105-0261 – Fax (0**11) 3104-7033 <a href="http://www.nankin.com.br/" target="_blank"><br />www.nankin.com.br </a><br /><a href="mailto:vendas@nankin.com.br">vendas@nankin.com.br </a></span><span style=";font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;font-size:85%;" ><br /><br />Com o autor:<br />Michel Arbache<br /><a href="mailto:msaba@ig.com.br">msaba@ig.com.br </a></span><span style=";font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;font-size:85%;" ><br /><br /></span>Michel Arbachehttp://www.blogger.com/profile/09391669747283456067noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2159981728280172515.post-78230406226589551322009-06-02T15:52:00.000-07:002009-06-02T19:16:12.307-07:00Release<b><span style="color: rgb(0, 51, 102);font-size:100%;" ></span></b>Numa narrativa surpreendente, este romance começa nos anos setenta, quando o autor descreve sua conturbada infância marcada pelo consumo de drogas do irmão mais velho. Mas, em vez de enveredar pelo lugar-comum do estrito lirismo sugerido pelo drama familiar, há também uma tentativa de se equacionar, com dose sarcástica, as motivações do irmão; o porquê dos seus curiosos contrastes ideológicos — desde a “fase hippie”, passando pelos graves motins comportamentais até a decisão de partir em busca do chamado “sonho americano”.<br /><br />Em 1986, o autor decide ir ao encontro do irmão em Nova York, onde passa a viver a sua própria aventura — como o fato de, sem saber inglês, virar taxista numa das maiores e mais violentas cidades de então. Contudo, Nova York reservaria para o narrador a realidade mais perversa: um trágico reencontro com a sua própria infância. O autor então se flagra refém não só da fantasmagórica entidade psíquica que o aterrorizara no passado, mas também dos muitos inimigos – os visíveis e os invisíveis – que tal “entidade” fizera por lá. Desta forma, Nova York passa a significar um suntuoso cenário para o drama que permeia toda a obra.<br /><br />Os detalhes da profissão de taxista em Nova York; a vida de um imigrante brasileiro e sua convivência com a colônia nas áreas suburbanas mais baratas é também um convite para que o leitor mergulhe numa realidade raramente conhecida daqueles muitos compatriotas que têm curiosidade em saber como é a vida fora do Brasil.Michel Arbachehttp://www.blogger.com/profile/09391669747283456067noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2159981728280172515.post-46933158185625744482009-06-01T20:03:00.000-07:002009-06-02T20:05:55.598-07:00Prólogo<span style="font-style: italic;">Cheguei da aula ao final da tarde e percebi, pela já tradicional</span><br /><span style="font-style: italic;">tensão silenciosa da casa, que Ronaldo tinha aprontado mais</span><br /><span style="font-style: italic;">uma. Desta vez, foram parar no lixo todos os nossos mantimentos:</span><br /><span style="font-style: italic;">feijão, arroz, trigo, macarrão... A maninha Sula foi quem testemunhou</span><br /><span style="font-style: italic;">toda a cena. Disse ela que o irmão mais velho, após o feito,</span><br /><span style="font-style: italic;">voltou-se “com cara de dopado” pra cima da mamãe e berrou:</span><br /><span style="font-style: italic;">— Isso é pra tu aprender, filha-da-puta!!!</span><br /><span style="font-style: italic;">Nunca neguei o autodidatismo da sua oratória que lançava</span><br /><span style="font-style: italic;">mão, por exemplo, do “tu”, tão raro em nossa região, nas vezes</span><br /><span style="font-style: italic;">em que desejava distanciamento psicológico do interlocutor. Pois</span><br /><span style="font-style: italic;">que, em sua lógica, tal pronome, além do ímpeto sonoro próprio</span><br /><span style="font-style: italic;">das consoantes explosivas — tu! —, sugeria também uma esterilização</span><br /><span style="font-style: italic;">no trato com a pessoa — esta assim reduzida ao mínimo</span><br /><span style="font-style: italic;">fônico que incorporava o mínimo interpessoal.</span><br /><span style="font-style: italic;">Era só o começo... Reza também a história familiar que, um</span><br /><span style="font-style: italic;">dia, o nosso primeiro carro zerinho apareceu banhado de ácido</span><br /><span style="font-style: italic;">sulfúrico. Na época, o que mais doía era ter que sair mentindo</span><br /><span style="font-style: italic;">para as pessoas; dizer que aquilo era coisa de moleque.</span><br /><br /><div style="text-align: left; font-style: italic;"> ***<br /></div><br /><span style="font-style: italic;">Enquanto o taxista chinês guiava pela Northern Boulevard, no</span><br /><span style="font-style: italic;">banco de trás eu seguia sozinho — silenciosamente sozinho — remontando</span><br /><span style="font-style: italic;">aqueles flashes ruins que, um dia, sonhei esquecer. Mas</span><br /><span style="font-style: italic;">não deu. Naquele momento era providencial pensar nisso; providencial</span><br /><span style="font-style: italic;">até como forma de afugentar qualquer peso na consciência</span><br /><span style="font-style: italic;">pelo que eu acabara de fazer...</span><br /><span style="font-style: italic;">Mas, enfim, ao menos eu voltara a notar graça até naquelas</span><br /><span style="font-style: italic;">imagens plasticamente pouco inspiradoras: fossem as luvas pretas</span><br /><span style="font-style: italic;">do chinês que deixavam desnudas suas falanges distais; ou fossem</span><br /><span style="font-style: italic;">as nuvens cinzentas que sangravam gotículas de chuva naquele</span><br /><span style="font-style: italic;">início de outono nova-iorquino.</span>Michel Arbachehttp://www.blogger.com/profile/09391669747283456067noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2159981728280172515.post-23235523411138553042009-05-30T18:04:00.000-07:002009-06-17T15:10:05.243-07:00Trechos<span style="font-size:100%;">O livro está dividido em duas partes; 11 capítulos na primeira parte e 44 capítulos na segunda.<br />Eis alguns trechos escolhidos aleatoriamente...<br /></span><span style="font-style: italic;"><span style="font-size:130%;"><br />Parte I - Pretérito Imperfeito</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">"</span><span>Meus irmãos mais velhos costumavam me dizer que na fase<br />mais festiva da família eu ainda não existia. E não escondiam<br />o cunho sádico desta informação. Naquele tempo — “bons<br />tempos”, diziam — todos se reuniam em torno do avô materno<br />para os banquetes dominicais na sua fazenda ou no seu palacete,<br />em Juiz de Fora. Meu avô, juravam os seus contemporâneos,<br />atraía as pessoas muito mais por seu carisma do que propriamente<br />o seu vasto patrimônio. Sua morte, no início de 1964, foi um forte<br />golpe que daria início ao desmembramento da família. No final daquele<br />mesmo ano, nasci para testemunhar o que viria a ser o início<br />da ruína financeira."<br /><br /></span></span><span style="font-style: italic;"><span><br /></span></span><span style="font-style: italic;"><span style="font-size:130%;">Parte II - Bem-vindo à América</span><br /><br /></span><span style="font-weight: bold; font-style: italic;"></span><span style="font-style: italic;">"(...)<br /></span><span style="font-style: italic;">Para se entender o problema dos táxis em Nova York, é necessário</span><br /><span style="font-style: italic;">explicar a geografia da Grande Nova York, que é formada</span><br /><span style="font-style: italic;">basicamente de cinco distritos: Manhattan, Queens, Brooklyn,</span><br /><span style="font-style: italic;">Bronx e Staten Island. Cada distrito é composto por seus respectivos</span><br /><span style="font-style: italic;">bairros. Manhattan tem, por exemplo, Harlem, Downtown</span><br /><span style="font-style: italic;">(centro), Chinatown, Village... </span><br />(...)<br /><span style="font-style: italic;">Pois Manhattan monopolizava todas as atenções de Nova</span><br /><span style="font-style: italic;">York. Tudo acontecia lá, naquela ilha de 21 quilômetros de comprimento</span><br /><span style="font-style: italic;">por três e meio de largura repleta de arranha-céus do</span><br /><span style="font-style: italic;">Central Park para baixo. A frenesi que movimentava milhões de</span><br /><span style="font-style: italic;">dólares diários em turismo e negócios fazia da ilha um formigueiro</span><br /><span style="font-style: italic;">de carros e pessoas. Apesar da fartura de linhas de metrô; apesar</span><br /><span style="font-style: italic;">de quase a metade dos carros de Manhattan serem amarelinhos, os</span><br /><span style="font-style: italic;">taxistas não conseguiam atender à grande demanda ditada pela</span><br /><span style="font-style: italic;">velocidade dos negócios. Era muito comum ver as pessoas paradas,</span><br /><span style="font-style: italic;">por minutos, com o braço estendido na beira da calçada enquanto</span><br /><span style="font-style: italic;">passava um rio de amarelinhos ocupados. Assim, para os motoristas</span><br /><span style="font-style: italic;">dos amarelinhos, só Manhattan interessava. Os outros distritos</span><br /><span style="font-style: italic;">então, como Queens, ficavam praticamente abandonados pelos</span><br /><span style="font-style: italic;">táxis amarelos — cabendo aos car services suprir esta falta."</span><br /><br /><div style="text-align: center;">***<br /></div><br /><span style="font-style: italic;">"O valor cultural daquela minha viagem era notável também<br />pela observação de alguns hábitos, necessidades e conceitos que,<br />ali, teriam que mudar. Eu costumava, por exemplo, fazer um<br />desjejum pela manhã. Para isto, em qualquer cidade brasileira bastava<br />recorrermos à velha e boa padaria. Procurei alguma perto de<br />casa. Em vão. Assim, dei-me conta de que as panificadoras, no<br />Brasil, eram frutos da herança portuguesa; era um patrimônio nacional<br />que reputava a padaria quase que como uma sacramentada<br />repartição pública que praticamente inexistia nos EUA."<br /><br /></span><div style="text-align: center;"><span style="font-style: italic;">***</span><br /><div style="text-align: left;"><div style="text-align: left; font-style: italic;">"O valor do aluguel obviamente variava conforme a localização<br />do imóvel. Teoricamente, a aproximação com a ilha de Manhattan<br />— onde os aluguéis eram mais caros — deveria ser fator determinante<br />para a valorização. Mas o que acabava pesando mesmo era<br /></div><span style="font-style: italic;">a regra geral que valia para qualquer grande cidade do mundo: a</span><br /><div style="text-align: left; font-style: italic;">proximidade com as estações de metrô, então um dos fatores que<br />mais pesavam na valorização do imóvel."<br /></div><br /><div style="text-align: center;">***<br /></div></div><br /></div><span style="font-style: italic;"><span style="font-style: italic;">"Resolvi tentar a graxa — termo genérico que servia também</span><br /><span style="font-style: italic;">como eufemismo para a estigmatizada expressão 'engraxate'."</span><br /><span style="font-style: italic;">(...)</span><br /></span><span style="font-style: italic;"></span><span style="font-style: italic;">me levou até a calçada em frente à loja e me apontou, dali, o </span><br /><span style="font-style: italic;">letreiro de um outro shoe repair mais abaixo, do outro lado da </span><br /><span style="font-style: italic;">Lexington. Disse que aquela loja era recém-inaugurada e que ali </span><br /><span style="font-style: italic;">poderia ser mais fácil de se conseguir trabalho. Chegando lá, eu </span><br /><span style="font-style: italic;">deveria procurar o engraxate Gugu.</span><br /><span style="font-style: italic;">(...)</span><br /><span style="font-style: italic;">Quando soube que era Edílson quem tinha me mandado ali,</span> Gugu<br /><span style="font-style: italic;">esticou seus lábios concomitante com um não reprovador que fez</span><br /><span style="font-style: italic;">com a cabeça. E comentou:</span><br /><span style="font-style: italic;">— Ele sempre faz isso!</span><br /><span style="font-style: italic;">Depois de terminar o serviço e receber cinqüenta centavos de</span><br /><span style="font-style: italic;">gorjeta, Gugu, com jeito educado e efeminado, revelou, numa</span><br /><span style="font-style: italic;">entonação que demonstrava distanciamento, que Edílson era seu</span><br /><span style="font-style: italic;">irmão. Explicitando sua reprovação contra a total falta de solidariedade</span><br /><span style="font-style: italic;">entre os brasileiros, ensinou-me o procedimento correto</span><br /><span style="font-style: italic;">quando fosse tentar algum emprego:</span><br /><span style="font-style: italic;">— Vai sempre direto no patrão... Se você pedir ajuda pra brasileiro</span><br /><span style="font-style: italic;">aqui, não vai conseguir nada em lugar nenhum... esse povo</span><br /><span style="font-style: italic;">não ajuda ninguém!</span>"<br /><br /><div style="text-align: center;">***<br /></div><br /><span style="font-style: italic;">"As sextas-feiras eram dedicadas à cocaína dentro de casa. Além</span><br /><span style="font-style: italic;">de Bob e Tim, juntara-se à farra o próprio Edílson, o da graxa. Esparramados</span><br /><span style="font-style: italic;">nos colchões do quarto, consumiam cocaína, cerveja</span><br /><span style="font-style: italic;">Budwaiser e às vezes também maconha. Acomodado num canto,</span><br /><span style="font-style: italic;">eu os observava com sádica curiosidade cada cafungar daquele pó</span><br /><span style="font-style: italic;">branco. O ritual iniciava-se naturalmente com a compra da droga,</span><br /><span style="font-style: italic;">que era muito fácil de se conseguir em pequenas mercearias de fachada</span><br /><span style="font-style: italic;">comandadas por negros, onde o próprio caixa entregava a</span><br /><span style="font-style: italic;">mercadoria. Ronaldo, por exemplo, costumava comprar sua maconha</span><br /><span style="font-style: italic;">na mercearia localizada na Broadway de Queens com a rua</span><br /><span style="font-style: italic;">51. Mas para conseguir comprar, o cliente usava uma espécie de</span><br /><span style="font-style: italic;">senha para pedir ou tinha que ser indicado por alguém. Ou então</span><br /><span style="font-style: italic;">tinha que passar confiança ao traficante que, com a experiência,</span><br /><span style="font-style: italic;">tende a adquirir um sexto sentido para distinguir um viciado de</span><br /><span style="font-style: italic;">um policial à paisana. Tim costumava comprar uma peteca de cocaína</span><br /><span style="font-style: italic;">por quarenta dólares de um hispânico que fazia ponto na</span><br /><span style="font-style: italic;">Broadway com a Roosevelt. O preço dos produtos era rateado</span><br /><span style="font-style: italic;">pelo grupo, sendo que Tim pagava mais barato sob a alegação de</span><br /><span style="font-style: italic;">que gastava gasolina para “procurar” o traficante".<br /><br /></span><div style="text-align: center;"><span style="font-style: italic;">***</span><br /></div><br /><span style="font-weight: bold; font-style: italic;"></span><span style="font-style: italic;">"Com o guia ao meu lado, não havia dificuldades. Porém, imaginei</span><br /><span style="font-style: italic;">o quanto poderia explodir a paciência dos passageiros se estivesse</span><br /><span style="font-style: italic;">sozinho. Ronaldo então revelou que, quando iniciou no</span><br /><span style="font-style: italic;">táxi, aprendeu um eficiente truque para um taxista novato não</span><br /><span style="font-style: italic;">fazer feio diante dos clientes (...)."</span><br /><br /><div style="text-align: center;">***<br /><br /><div style="text-align: left;"><span style="font-style: italic;">"Naquele mesmo sábado, à noite, até para quebrar a tensão</span><br /><div style="text-align: left; font-style: italic;">preliminar, Zé comprou algumas cervejas para brindar a chegada<br /></div><span style="font-style: italic;">dos novos moradores. Tavico, ex-jogador profissional de futebol,</span><br /><span style="font-style: italic;">era quem tinha as histórias mais sensacionais para contar — inclusive</span><br /><span style="font-style: italic;">do seu bate-boca com Tom Jobim no banheiro de um hotel</span><br /><span style="font-style: italic;">na cidade de Guatemala.</span>"<br /><br /><div style="text-align: center;">***<br /></div><br /><div style="text-align: left;">"T<span style="font-style: italic;">avico resolveu levar seu irmão mais moço Zé — que também</span><br /><span style="font-style: italic;">jogava futebol — para tentar a sorte em Guatemala. Mas,</span><br /><span style="font-style: italic;">com pouco dinheiro, fizeram a viagem por terra. Nesta parte da</span><br /><span style="font-style: italic;">história, foi Zé quem começou a narrar.</span><br /><span style="font-style: italic;">Quase chegando em Guatemala, passaram por El Salvador exatamente</span><br /><span style="font-style: italic;">no momento em que eclodiam violentas batalhas entre revolucionários</span><br /><span style="font-style: italic;">e contra-revolucionários. Confundidos com “gringos”</span><br /><span style="font-style: italic;">em San Salvador, o quarto da pensão onde estavam foi violentamente</span><br /><span style="font-style: italic;">invadido por guerrilheiros armados. Zé contou os horrores</span><br /><span style="font-style: italic;">que ele e o irmão passaram nas mãos daqueles adolescentes</span><br /><span style="font-style: italic;">que lhes miravam armas pesadas; mandavam confessar o crime</span><br /><span style="font-style: italic;">que eles nem entendiam. Neste momento Tavico tomou as rédeas</span><br /><span style="font-style: italic;">do relato para enriquecer a dramaticidade:</span><br /><span style="font-style: italic;">— Você não sabe o que é ficar contra a parede e sentir o cano</span><br /><span style="font-style: italic;">gelado de uma metralhadora encostada no seu pescoço; a sua vida</span><br /><span style="font-style: italic;">por um fio nas mãos de um menino!</span><br /><span style="font-style: italic;">O que salvou os irmãos não foi o bom espanhol que Tavico</span><br /><span style="font-style: italic;">falava — até porque a guerra era entre eles mesmos. A salvação viria</span><br /><span style="font-style: italic;">de uma realidade que Tavico e Zé conheciam por alto, mas não</span><br /><span style="font-style: italic;">com tamanha profundidade"</span><br /></div><br /></div><br />***<br /><br /></div>"<span style="font-style: italic;">Aparecida era moça vivida; já tinha morado em Nova York</span><br /><span style="font-style: italic;">dois anos antes, quando trabalhou como go-go girl — como</span><br /><span style="font-style: italic;">eram chamadas as moças que dançavam de topless nos bares conhecidos</span><br /><span style="font-style: italic;">pelo mesmo nome. As brasileiras monopolizavam a profissão</span><br /><span style="font-style: italic;">de go-go girl em Nova York. Duas delas — uma carioca e</span><br /><span style="font-style: italic;">uma belo-horizontina — chegaram a morar na casa de Zé pouco</span><br /><span style="font-style: italic;">antes de Ronaldo e eu nos mudarmos. Elas, que faturavam de</span><br /><span style="font-style: italic;">100 a 150 dólares por noite, haviam confessado que a presença</span><br /><span style="font-style: italic;">de um brasileiro no bar trazia um constrangimento como se fossem</span><br /><span style="font-style: italic;">vigiadas por um parente. E não eram as únicas. Muitas gogo-</span><br /><span style="font-style: italic;">girls brasileiras — algumas até casadas e mães de família —</span><br /><span style="font-style: italic;">eram de classe média e mentiam para os parentes no Brasil sobre</span><br /><span style="font-style: italic;">sua verdadeira profissão. No caso das duas ex-moradoras da</span><br /><span style="font-style: italic;">casa de Zé, elas diziam para seus pais que ganhavam a vida em</span><br /><span style="font-style: italic;">Nova York cuidando de idosos. Mas tal mentira não era exclusividade</span><br /><span style="font-style: italic;">das go-go-girls. Grande parte dos brasileiros — engraxates,</span><br /><span style="font-style: italic;">dichas, faxineiros, operários etc. — costumavam esconder tal</span><br /><span style="font-style: italic;">condição para seus patrícios no Brasil, forjando profissões que</span><br /><span style="font-style: italic;">consideravam mais nobres. Chico, um engraxate amigo de Zé, se</span><br /><span style="font-style: italic;">inspirou na verdadeira profissão deste para mentir aos seus amigos</span><br /><span style="font-style: italic;">no Brasil: dizia que trabalhava num escritório de importação</span><br /><span style="font-style: italic;">e exportação no Empire State. Um outro amigo de Zé, o carioca</span><br /><span style="font-style: italic;">Robertinho, que tinha green card e trabalhava como operário na</span><br /><span style="font-style: italic;">construção civil, bolou uma mentira extensiva aos seus propósitos</span><br /><span style="font-style: italic;">libidinosos: em suas visitas anuais ao Rio de Janeiro, dizia às</span><br /><span style="font-style: italic;">mulheres que trabalhava como olheiro numa poderosa agência</span><br /><span style="font-style: italic;">de modelos de Nova York. Esta era a explicação para o material</span><br /><span style="font-style: italic;">que Robertinho costumava exibir orgulhoso nas festas de brasileiros:</span><br /><span style="font-style: italic;">um pequeno álbum de fotografias recheado de moças nuas</span><br /><span style="font-style: italic;">as quais, sedentas por uma carreira de modelo no estrangeiro,</span><br /><span style="font-style: italic;">entregavam-se de corpo e alma ao 'olheiro'</span>."<br /><br /><div style="text-align: center;">***<br /></div><br /><span style="font-weight: bold; font-style: italic;"></span><span style="font-style: italic;">"Aquela oficina de Miltinho </span><span style="font-style: italic;">funcionava também como garagem</span><br /><span style="font-style: italic;">das seis limusines de Paulino, o brasileiro que ficou famoso no Brasil</span><br /><span style="font-style: italic;">por seu sucesso naquele empreendimento. Eu o conhecia só de</span><br /><span style="font-style: italic;">jornais e revistas. O galpão pertencia a uma velhinha que também</span><br /><span style="font-style: italic;">era proprietária do sobrado ao lado, em cujo térreo funcionava o</span><br /><span style="font-style: italic;">escritório da Paulino Limousines".<br /><br /></span><div style="text-align: center;"><span style="font-style: italic;">***</span><br /></div><br /><span style="font-style: italic;">"Era comum os car services servirem involuntariamente aos traficantes,</span><br /><span style="font-style: italic;">principalmente os colombianos. Com a experiência, não era difícil</span><br /><span style="font-style: italic;">perceber no passageiro algumas atitudes suspeitas como, por</span><br /><span style="font-style: italic;">exemplo, o ato de visitar mais de um endereço; os seus olhares de pesquisa</span><br /><span style="font-style: italic;">através dos vidros do carro; a pausa no falatório quando passávamos</span><br /><span style="font-style: italic;">pela polícia... Mas, ancorado na minha própria condição profissional,</span><br /><span style="font-style: italic;">eu pouco me importava com aquilo tudo — até porque os</span><br /><span style="font-style: italic;">traficantes, normalmente, eram generosos na hora de pagar."<br /><br /></span><div style="text-align: center;">***<br /></div><div style="text-align: center;"><br /><div style="text-align: left; font-style: italic;">"Ronaldo ofereceu-lhes corrida, eles se entreolharam rapidamente<br />e entraram no carro. Perguntados sobre o destino, os passageiros<br />fizeram um silêncio reflexivo e um deles respondeu que desejava ir à<br />Northern Boulevard com a rua 47. Enquanto descia a Broadway,<br />Ronaldo sentiu o cano encostando na sua cabeça. Pediram seu dinheiro<br />e ele entregou os 94 dólares que tinha. Pegaram o dinheiro,<br />arrancaram-lhe os óculos, a carteira com os documentos e o par de<br />tênis. Esta era uma tática maldosa para dificultar a reação da vítima.<br />E fugiram com o carro, deixando Ronaldo só de meias e com a roupa<br />do corpo em meio à chuva gelada que caía naquele momento."<br /><br /><div style="text-align: center;">***<br /></div></div><br /></div><span style="font-style: italic;">"Infelizmente, a realidade da sociabilidade dos brasileiros em Nova</span><br /><span style="font-style: italic;">York não era aquela que se esperava de um compatriota num</span><br /><span style="font-style: italic;">país distante.</span><br /><span style="font-style: italic;">(...)</span><br /><span style="font-style: italic;">O meu primeiro contato acidental com brasileiros em Nova</span><br /><span style="font-style: italic;">York foi ainda na minha primeira semana em Nova York. Entrei</span><br /><span style="font-style: italic;">numa das lojas da rua 46 e, olhando as mercadorias expostas, percebi</span><br /><span style="font-style: italic;">que duas moças, olhando a vitrine do lado oposto, comentavam</span><br /><span style="font-style: italic;">em português sobre o preço de um walkman. Admirado, voltei-</span><br /><span style="font-style: italic;">me para elas e perguntei — algo óbvio, mas inevitável — se</span><br /><span style="font-style: italic;">eram brasileiras. A reação preliminar das duas foi de, em súbito silêncio,</span><br /><span style="font-style: italic;">me encarar com feições sérias de quem acaba de ouvir um</span><br /><span style="font-style: italic;">desaforo de estranho. Até que uma puxou a outra pela mão para</span><br /><span style="font-style: italic;">sair dali, enquanto dizia: 'brasileiro... cai fora!'."<br /><br /></span><div style="text-align: center;"><span style="font-style: italic;">***</span><br /></div><span style="font-style: italic;"><br />"Todo mundo que mora em Nova York já viu algum<br />famoso. Mas para a maioria dos brasileiros, só há chance de<br />reconhecer os famosos do Brasil mesmo. No meu caso, além de<br />Carlos Alberto Torres e Martinho da Vila, avistei, depois de um<br />show de Caetano no Town Hall, Elba Ramalho, Maurício Mattar<br />e Sônia Braga. Por parte do cidadão nova-iorquino, parecia que<br />algo de presunção e arrogância permeava seu caráter e que o dispensava<br />de praticar tietagem dentro daquele território de obrigatória<br />trégua. E este “acordo tácito” parecia contaminar os turistas e<br />os próprios paparazzos quando inseridos no glamour daquela vastidão<br />veloz e histérica."<br /></span>Michel Arbachehttp://www.blogger.com/profile/09391669747283456067noreply@blogger.com0