Numa narrativa surpreendente, este romance começa nos anos setenta, quando o  autor descreve sua conturbada infância marcada pelo consumo de drogas do  irmão mais velho. Mas, em vez de enveredar pelo lugar-comum do estrito  lirismo sugerido pelo drama familiar, há também uma tentativa de  se equacionar, com dose sarcástica, as motivações do  irmão; o porquê dos seus curiosos contrastes ideológicos —  desde a “fase hippie”, passando pelos graves motins comportamentais  até a decisão de partir em busca do chamado “sonho americano”.
Em 1986, o autor decide ir ao encontro do irmão em Nova York, onde  passa a viver a sua própria aventura — como o fato de, sem saber inglês,  virar taxista numa das maiores e mais violentas cidades de então. Contudo,  Nova York reservaria para o narrador a realidade mais perversa: um trágico  reencontro com a sua própria infância. O autor então se flagra  refém não só da fantasmagórica entidade psíquica  que o aterrorizara no passado, mas também dos muitos inimigos – os  visíveis e os invisíveis – que tal “entidade” fizera  por lá. Desta forma, Nova York passa a significar um suntuoso cenário  para o drama que permeia toda a obra.
Os detalhes da profissão  de taxista em Nova York; a vida de um imigrante brasileiro e sua convivência  com a colônia nas áreas suburbanas mais baratas é também  um convite para que o leitor mergulhe numa realidade raramente conhecida daqueles  muitos compatriotas que têm curiosidade em saber como é a vida fora  do Brasil.